A cada temporada, os mariscos ganham lugar de destaque na culinária da Ilha do Mel. Durante as marés secas, em especial nas luas Nova e Cheia, os pescadores artesanais buscam os frutos do mar em criadouros espalhados entre as comunidades pesqueiras, como na Praia de Fora, na Praia do Miguel e no mar da Ponta Oeste.
Apenas na ilha, a produção média do marisco em cada fase da lua é de 400 quilos. O cultivo já foi maior. O que é coletado abastece os restaurantes da própria ilha e de municípios do litoral, como Paranaguá. No estado, a estimativa de produção é de 10 toneladas por ano. “O marisco gruda na pedra e vai crescendo. O controle da produção é feito pelo nativo, que sabe que é preciso preservar, pois é sua forma de sustento e não é possível tirar à vontade”, afirma o vice-presidente da Associação dos Comerciantes das Encantadas, Marcos Gamper.
A queda na produção também se reflete na preferência do comensal que frequenta os restaurantes litorâneos. Os pratos à base de marisco deram lugar a outras iguarias. Exemplo disso é que poucos estabelecimentos oferecem um dos pratos mais tradicionais da Ilha do Mel, o Arroz Lambe-Lambe, produzido há várias gerações. A pousada de Gamper, em Encantadas, é uma das únicas que mantém a tradição. “Ela está se perdendo, mas ainda existem poucos locais que fazem as receitas. Isso acontece porque os restaurantes agregam outros tipos de refeições e acabam esquecendo as receitas nativas”, conta a chef de cozinha da Pousada Orquídeas, Michelly Silio Monteiro.
Cultivo
“O pescado está escasso nas baías do litoral paranaense e o mesmo vale para os moluscos e crustáceos extraídos dos mangues com a coleta de ostras, caranguejos e mariscos”, afirma o engenheiro agrônomo Marcos Campos de Oliveira, do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural – Emater, regional Paranaguá. De acordo com ele, esta situação é consequência de um processo produtivo extrativista, sem controle sanitário nem respeito aos períodos de reprodução.
Diante da queda no cultivo de mariscos e de outros frutos do mar, o Emater lançou no final de junho um programa que incentiva a produção comunitária. O objetivo é oferecer uma opção economicamente viável e ambientalmente sustentável aos produtores de comunidades tradicionais.
O programa consiste na instalação de unidades de produção com a supervisão de técnicos. As sementes são produzidas em laboratório e desenvolvidas em estruturas instaladas no mar, com controle da qualidade da água. Antes da comercialização, ainda é feito um processo de depuração. “O marisqueiro deixa de ser um extrativista e passa a ser um aquicultor, um agricultor do mar”, explica Oliveira. Onze comunidades irão receber o projeto nos municípios de Guaratuba, Guaraqueçaba, Paranaguá e Pontal do Paraná e os primeiros cultivos começam no ano que vem.
Fonte: GAZETA DO POVO